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Crónica: O Derby dos treinadores

Crónica Mulher Portuguesa
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O Estádio da Luz e o Estádio de Alvalade foram palco de grandes surpresas esta semana. Fruto de uma jogada táctica ou da necessidade de mudança, Mourinho e Inácio foram afastados.

O Derby dos treinadores

Esta foi uma semana recheada em acontecimentos futebolísticos que em nada se faziam esperar, ou pelo menos, não da forma que sucederam.

O Estádio da Luz parecia um inferno de insultos e, em Alvalade, ainda que as coisas fossem mais calmas, a surpresa acabou por não ser muito menor (aliás, as coisas em Alvalade parecem ser muito repentinas e modificam-se muito rapidamente).

Pela primeira vez são dispensados, ou despedidos, como queiram, dois treinadores que muito fizeram por duas das grandes equipas do futebol português.

A diferença é que Mourinho partiu e Inácio, de início, também parecia partir, depois voltou, e partiu novamente, mas de vez. (Sim, foi por esta a ordem sucedeu a dança de Inácio). Aberta a época das contratações, parece que também no banco as trocas e baldrocas tiveram o seu início…

Eles são ainda dois jovens treinadores. Um deles guarda na sua carreira futebolística as recordações dos tempos em que estava ao lado de Bobby Robson (certamente com muito menos preocupações), até que veio cair no ninho das águias (ou será de abutres?), sedento de vitória e de fazer vingar a aposta que o então actual presidente, Vale e Azevedo, havia feito em si.

Por lá andou durante alguns meses, escassos, até que o actual presidente do clube da Luz, Manuel Vilarinho, anunciou que o seu treinador seria Toni. Mourinho limitou-se, a partir desse momento, a comandar a equipa, sem pouco mais poder fazer, nem sequer ter uma palavra para eventuais contratações.

Mas, a novela Mourinho/Vilarinho, que mais se assemelhava a um pequeno/grande filme de Cowboys, terminou. Na terça feira, Mourinho bateu com a porta do Estádio da Luz e foi-se embora, ladeado pelo seu ‘braço direito’, Carlos Mozer.

Após ter apresentado um ‘ultimatum’ ao Benfica para renovar o seu contrato (isso é que foi coragem e pretensão ao mesmo tempo), a Direcção teve o motivo que tanto desejava para que Mourinho saísse de vez da Luz.

Não aceitando a Direcção a proposta, Mourinho acabou mesmo por sair do SL Benfica. Por um lado, a exigência de Mourinho acabou por facilitar a tarefa do Benfica que, mais dia menos dia, acabaria por convidá-lo a sair ou, se quiserem, a dar uma curva.

Augusto Inácio foi o nome do outro treinador que esteve na boca do povo esta semana, e que foi afastado, por um dia, de Alvalade, depois voltou, e partiu novamente. Persistente e determinado, tem vindo a desempenhar uma excelente função à frente do clube, levando-o à vitória do campeonato na época passada.

Actualmente, os resultados do Sporting estão um pouco longe de atingirem o nível do ano transacto (recorde-se a derrota por 3-0 frente aos encarnados). Luís Duque não ‘perdoou’ a Augusto Inácio e afastou-o de Alvalade, afastando-se também ele do reinado dos leões.

Mas, e como no futebol tudo pode acontecer, Luís Duque manteve-se à frente da SAD e Augusto Inácio regressou ao seu palácio, mas apenas por algumas horas.

Na quinta feira à tarde, a SAD anuncia a saída de Augusto Inácio, oferecendo-lhe o lugar de Director Técnico (estranho como o Sporting levou quase duas décadas para ter esta determinação e dinâmica toda, não acham? Mas, sem dúvida que até são pessoas generosas…)

Fico a pensar se isto não teria sido tudo uma forma para chamar a atenção dos media, até porque Duque fez questão de referir na conferência de imprensa um ‘Até Breve’ a Inácio, em vez do típico ‘Adeus’. Certamente, para a semana Inácio volta! Não se preocupem, por isso, os Sportinguistas!

Passemos agora para o outro lado do Derby. Há que analisar as coisas da seguinte forma: José Mourinho tem pouca experiência como treinador, nunca foi treinador principal e o Benfica abriu-lhe as portas para a ribalta.

Até à data os resultados não têm estado a ser fabulosos, ainda que o saldo tenha sido positivo.

Ora, um trabalho positivo deve receber os seus lucros merecidos, mas não se justifica essa solicitação com um ‘ultimatum’. Mourinho parece ter perdido a humildade com que chegou ao Benfica e está a exigir de forma menos cordial aquilo a que, porventura, até pode ter direito.

A exigência da renovação de contrato não foi a melhor solução, pois o mais certo era a direcção aproveitar-se disso para ele sair. Ou quereria de facto Mourinho sair para ir para Alvalade?

Mas, se esta parecia ser uma hipótese viável agora já não o é de certeza, pois Duque afirmou que não haver qualquer tipo de acordo entre Mourinho e Sporting. Mas, como em Alvalade as vontades mudam ao sabor do vento…

O que isto tudo significa, em linguagem clara e simples, e dito em tom frontal e directo, é transparente como a água: o Sporting, que não vencia um campeonato há 18 anos, foi campeão nacional o ano passado e o homem que o colocou novamente no topo, conferindo-lhe todo o mérito e valor que hoje possui, foi dispensado.

Este foi um profundo sinal de desonestidade e de falta de agradecimento da parte do Sporting a Inácio, uma atitude nada digna para com o homem que deu tudo ao clube e que se dedicou completamente ao mesmo.

Sem Inácio, o Sporting, provavelmente, não era campeão, mas se calhar foi pensando em toda essa dívida que alguém disse em Alvalade: ’Vamos buscar novamente o Inácio para Director Técnico!’.

Eu cá acho que podem fazer o que quiserem, mas cheira-me que o leão vai andar mais 18 anos a ver as taças passarem para a invicta e, com um pouco de sorte, ali para os lados da Luz.

Outra conclusão importante: Se com meses de experiência de treinador Mourinho revela tamanho autoritarismo, o que diremos daqui a algum tempo. Mas, se José Mourinho fez o ‘ultimatum’ ao Benfica, exactamente porque assim podia sair sem precisar de se justificar perante os sócios, então aí a atitude é duplamente repugnante.

É que Mourinho, muito aplaudido na hora da despedida, o que valeu algumas agressões psicológicas e físicas a Vilarinho, esquece-se que Toni tem muito mais experiência que ele e que já levou o Benfica a grandes vitórias.

Portanto, Mourinho terá que perceber que, se calhar, venceu o melhor, isto é, Toni, embora seja de louvar todo o trabalho de Mourinho, ainda que os frutos estejam muito longe de ser colhidos.

O Derby dos treinadores prepara-se para conhecer momentos mediáticos e, quem sabe, tão emocionantes como os que foram reproduzidos esta semana. Manuel Vilarinho não parece estar a conservar uma relação muito boa com os sócios e, pelo andar da carruagem, as chamas do inferno da Luz podem incendiar-se, novamente.

Em Alvalade, e se os leões saíram enfurecidos da jaula, rapidamente voltaram a adormecer quando foi anunciado o regresso de Augusto Inácio, nem que seja enquanto Director Técnico, caso Inácio decida aceitar o cargo que lhe foi proposto. Lisboa parece ter aberto mesmo o mercado das contratações, numa altura em que o Derby parece ir apenas a meio.

No fim desta primeira parte, o resultado é um simples empate: Inácio-0 Mourinho-0, com fortes probabilidades de vitória para Inácio, caso aceite a proposta da SAD, regressando a Alvalade para o cargo de Director Técnico.

Árbitros da partida: Luís Duque e Manuel Vilarinho, com os respectivos fiscais de linha: sportinguistas e benfiquistas. Um derby fabuloso, com um público muito entusiasta (até demais) que se prevê com um final emocionante!

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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