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Crónica: Atentado à bomba à justiça

Cronistas da MulherPortuguesa
Cronistas da MulherPortuguesa

Um homem entrou na RTP, ameaçou, fez exigências, rendeu-se e tudo isto porque achava que a justiça portuguesa era demasiado lenta. Será um exemplo a seguir este atentado à bomba?

Esta é uma questão difícil. Colocando de parte todo o passado do Sr. Subtil (a subtileza tem destas coisas), as outras tentativas iguais ou mesmo o seu estado psicológico, diga-me quem lê estas linhas se nunca teve vontade de fazer o mesmo, no caso infeliz de ter algo a ver com os meandros da justiça portuguesa.

É que é bom de ver que quem ali entra já não sai e fica mais enredado que as pobres sardinhas pescadas durante o Verão para consumo do português. E sem a mínima garantia de ver feito aquilo porque recorreu aos tribunais, ou seja, a justiça a que clama como bom e cumpridor cidadão.

Atentado à bomba à justiça

Ele é um papelinho que falta, é mais uma carta ao juiz, é o réu que não comparece, porque sabe que a sua ausência vai atrasar tudo, e ninguém quer pagar mais cedo se o puder fazer mais tarde e são as leis ridículas e obsoletas que nada resolvem e que outros lobbys não querem ver modernizadas (apenas um delicioso exemplo destas: a defesa dos animais, classificados como ‘bem alheio’ data em Portugal da legislação de 1919, sendo a protecção jurídico-penal de canídeos de 1923.

Interessante, se pensarmos que, pelo meio, vigorou uma República, reinou uma ditadura, deu-se uma revolução e que vivifica uma democracia).

Pelo meio, estão os casos que escandalizam todos mas contra os quais ninguém faz nada: absolvições de burlões, prescrições em mortes de crianças, juízes que soltam os ladrões após a audiência preliminar (porque isto de prisão pode fragilizar muito uma pessoa), em julgamentos bem conhecidos de todos nós.

Mas não se podem culpar sempre os advogados ou juizes. Porquê? Então já tentou agarrar num livro de direito e tentar perceber o que para ali vai? E as emendas, alterações e afins que mudam a letra mas deixam tudo igual?

E nem mesmo as demissões dos ministros, as condenações de certos juizes que nem juízo têm para ajuizar, colocam cobro a esta situação, porque logo de seguida já avançam novas situações, levando a que, como diria o outro, apenas se mudem as moscas.

Se tem um problema, siga o meu conselho: resolva-o a bem ou a mal, mas evite as malhas da justiça, porque esta além de tardar, não ajuda em nada, isto a menos que deseje uma boa dor de cabeça e muitos dias perdidos em idas e voltas ao tribunal, aos correios, etc.

O cão da vizinha ladra? Mude de casa! Bateram-lhe no carro? Pague o seu prejuízo, o do outro e leve-o a beber uma cerveja! Usaram o seu nome num jornal ou num anúncio erótico?

Aproveite os seus 15 minutos de fama, ainda pode conseguir um programa na rádio com o Marco!

Agrediram-na? Responda ao agressor com um jantar à luz das velas! O seu patrão despediu-a sem justa causa? Ofereça-lhe um diploma de bom patrão e procure outro emprego.

Estes são alguns dos exemplos mais práticos, mas com imaginação pode ainda encontrar outros. Em última instância, apresente uma mala de cartão, diga que está carregada de explosivos e coloque-se à porta de uma grande multinacional (não escolha a Assembleia da República ou um Ministério, porque esses estão sempre vazios e de nada lhe valeria).

Para este novo milénio apenas tenho um pedido urgente: que a justiça abra bem os olhinhos!

Cronista da Mulher Portuguesa: Maria do Carmo Torres

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