Crónica: A ditadura da beleza

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Ditadura da beleza
Ditadura da beleza

A ditadura da beleza está diretamente ligada à cultura de um povo e se modifica segundo suas características sociais e económicas. O homem sempre esteve á margem dos valores da beleza física, justamente por possuir poder, pois quem possui poder atrai sem ser belo.

A mulher foi e continua sendo a grande vítima da beleza. Como ela não possui poder politico, económico e militar, necessita se afirmar e se fazer notar e usa com o corpo!

A ditadura da beleza

Por um longo período da nossa história, mulheres gordas eram consideradas atraentes. Ser gorda ou robusta era sinónimo de boa alimentação e consequentemente de riqueza. Nos anos 60, com a popularidade do cinema, televisão e o aparecimento da revista Playboy, o valor da beleza sofreu uma revolução: o corpo da mulher que até então esteve coberto por longos vestidos, foi mostrado pela primeira vez, completamente nu. Com a nudez feminina, surgiu também a mulher objecto.

Com o advento da pílula anticoncepcional, o rock’n roll e os hippies, o valor da beleza se alterou mais uma vez: como o corpo humano estava a mostra e a liberdade sexual era uma realidade, ser magro passou a ser um sinónimo de beleza.

Nos últimos vinte anos, lentamente a beleza tem-se associado a juventude. Hoje não basta ser magro e belo, tem-se que ser jovem. Anteriormente a beleza era associada a mulher adulta e ao seu status social; consequentemente ao poder económico. Uma adolescente depende economicamente da família e poderia possuir a beleza física, mas não possuía o mais importante: a magia do poder económico.

Com o planeta uniformizando tendências e globalizando a cultura e a economia dos povos, o padrão de beleza também se globaliza. Nas passarelle de moda da Europa, os maiores exportadores de vestuário do planeta, a magreza e a beleza adolescentes são sinónimos do modelo de beleza a ser seguido. É incoerente associar a adolescente magra a um padrão de beleza mundial.

A jovem adolescente não é produtiva e nem autónoma pois ainda frequenta a escola e depende economicamente da família. Sendo assim, não possui autonomia para comprar os vestidos, sapatos, bijouterias e óculos , etc. Mas o mercado insiste em mostrar as publicidades de vestuário e produtos femininos somente com adolescentes como protagonistas, quando quem compra é a mulher que trabalha, que tem autonomia económica e já não é adolescente.

Esta incoerência absurda do modelo actual da beleza feminina foi criada e alimentada pelo mercado mundial da moda.

Hoje são os mercados a ditar o padrão de beleza a ser seguido gerando frustrações e gastos sem fim, pois para ser bela a mulher deve permanecer jovem.

Como as mulheres normalmente estão fora do padrão anoréxico das passarel’s, elas necessitam estar sempre em dieta e com isso compram emagrecedores, produtos que acabem com a celulite, compram ténis, agasalhos desportivos e estão sempre à espera de um milagre que as faça perder alguns quilos.

Para demonstrar a beleza da juventude, as mulheres gastam milhões de dólares ao ano em todo o planeta. São milhões em perfumes, cremes rejuvenecedores, cremes anti-rugas, hidratantes que prometem milagres, bálsamos e tinturas que prometem cabelos brilhantes em minutos.

A maquilhagem que muda a cada estação e com a mudança as mulheres precisam comprar as cores ditadas para aquela estação. Jogar no fundo da gaveta os batons vermelhos porque agora a moda é usar o batom rosa. Esquecer as sombras azuis porque a moda exige outros tons.

Para seguir a tendência ditada pelos fabricantes de vestuário europeus, a cada estação as mulheres necessitam comprar novos vestidos, novos jeans, novos sapatos e novas bijouterias. Comprar e comprar sem parar.

Todas essas “necessidades” femininas criadas artificialmente pelo mercado europeu geram milhões de empregos em todo o planeta e o mercado não pode parar. Criando em continuação necessidades novas a ser consumidas a cada estação pelas desesperadas mulheres ansiosas de demonstrar juventude eterna e magreza absoluta.

Enquanto as mulheres estão preocupadas em parecer eternamente jovens, belas e magras, os homens estão preocupados em incentivar e manter o modelo de mercado económico que criaram. Esse círculo sem fim voltado a banalidade feminina nao atinge os homens, que preferem a fogueira das vaidades do poder.

Com a magia do poder absoluto, eles podem se dar ao luxo de envelhecer, estar sempre acima do peso ideal e nem se abalam quando os cabelos brancos aparecem junto com as primeiras rugas. Afinal, quem tem poder precisa ser belo?

Tania Rocha (Escritora Lodi, Itália)

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