Wicca, o culto da deusa mãe e a natureza

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Wicca - Deusa Mãe
Wicca - Deusa Mãe

A doutrina Wicca define-se como a busca de auto-conhecimento, da harmonia com os poderes, ritmos e ciclos da natureza e pelo equilíbrio do homem com o seu meio. Com base nesta visão, em tradições populares europeias, nas escolas ocultistas e nas técnicas xamânicas, foi sendo construída a religião também chamada Paganismo, Neo-Paganismo ou Religião Antiga, baseada na imagem de uma deusa-mãe.

Depois da divulgação pública de que foi alvo na década de 50, através de Gerald Gardner, deu-se início a um movimento de expansão na Inglaterra, após o que surgiram diversas tendências, sempre adotando como base o pensamento paganista. Hoje existem a linha Gardneriana, Alexandriana, Celta, Diânica, Solitária, Cerimonial, Teutônica, entre outras.

Wicca significa “A Arte” ou “Bruxaria”, e nasceu na tradição anglo-saxónica, inspirada em mitos e divindades celtas, galesas e irlandesas, e pela mitologia greco-romana acrescida das tradições populares.

Nas suas características, confunde-se por vezes com os rituais de bruxaria das aldeias europeias, geralmente encaradas como ritos demoníacos, invocação dos mortos e rezas para obter prazeres carnais ou vinganças.

A doutrina Wicca entende a magia como um conjunto de técnicas capazes de manipular positivamente as energias naturais, e tem como lema: “Faz o que queres, sem prejudicar ninguém”.

Baseado no culto da deusa-mãe era mais que óbvio que o movimento feminista se aproxima-se da doutrina, o que aconteceu no final dos anos 60, à medida que as activistas se foram apercebendo das novas propostas de valores sociais que se opunham ao carácter masculino das restantes religiões, onde Deus, os Papas, pastores e a maioria dos santos, profetas e iluminados são homens.

As religiões que se seguiram ao Paganismo apresentam todas um carácter masculino em que o homem é mesmo indiciado a exercer opressão sobre o que o rodeia, como se lê na Bíblia: “Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra” (Gênesis, 1:28).

Por seu lado, o paganismo, centrado na Natureza, valoriza os ciclos e a geração da vida. Sugere uma aproximação do matriarcalismo das primeiras sociedades humanas. A observação dos ritmos e da fecundidade da terra inspira respeito e propõe uma relação de cumplicidade entre masculino e feminino, simbolizada pela relação entre Deusa e Deus.

O objectivo da identidade pagã é libertar homens e mulheres dos seus papéis rígidos e estereotipados para que possam viver em comunhão entre si e com o Universo.

O Paganismo é representado pela deusa Sheila-na-gig, deusa da fertilidade na mitologia britânico-celta, que tinha genitais proeminentes, representando a vida nascida da fêmea. Com o advento do Cristianismo, passou a ser descrita como um demónio feminino, e era retratada na parte externa das igrejas inglesas como símbolo do Mal. Algumas outras faces da Deusa são Lilith, Ísis, Deméter e Hécate.

Representação de Wicca

A Deusa é também representada nos aspectos de Donzela, Mãe e Anciã, simbolizados nas fases crescente, cheia e minguante da Lua e o seu consorte é o Sol.

O Feminino Divino foi a imagem sagrada que manteve a humanidade ligada à Natureza e tornou-se sinónimo de fertilidade, sabedoria, harmonia, justiça e beleza. Durante o Neolítico e o Paleolítico, a humanidade viveu em harmonia mágica com o ciclo da vida, mas com o desenvolvimento da civilização, a Natureza passou a ser imaginada como uma força indomada a ser subjugada e controlada.

Foi nesse processo de separação que a unidade da vida se tornou dualidade, Espírito e Natureza, Mente e Matéria, Deus e Deusa. Deus foi identificado com o espírito, a luz, a mente criativa e o bem. À Deusa, foram associados a Natureza, a escuridão, o caos e o mal, associada à mulher pela ligação com os seus ciclos e pelo instinto.

As religiões foram retirando de si mesmas a dimensão feminina e para a doutrina Wicca, este factor veio provocar os problemas de medo, ansiedade, ódio devido à falta da imagem da Mãe.

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