E o povo ordenou

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E o povo ordenou
E o povo ordenou

E o povo ordenou

Na noite de 25 de Abril, Fialho Almeida anuncia o primeiro comunicado a ser lido pela Junta de Salvação Nacional na RTP…

Vivia-se a época das mini-saias e das calças boca de sino. Em moda estavam cantores de disco-sound, o mini, o Cintröen dois cavalos e o Carocha. Em Portugal, cantava-se a Traviata no Coliseu, no parque Mayer estava em exibição a peça “Tudo a Nu”, com Helena Isabel e Henrique Viana e nos cinemas, a euforia era “O Último Tango em Paris”. Lia-se o Século Ilustrado, via-se o único canal da RTP e, sob a presidência de Américo Tomás, sonhava-se com a liberdade, no país do Português Suave.

Em Portugal, viviam-se tempos de agitação. A crise rural levou milhares de portugueses a emigrar, durante treze anos, milhares embarcaram para combater numa guerra que não entendiam e em 1969 acções como o assalto ao Santa Maria e ao quartel de Beja não conseguiram derrubar o regime. A P.I.D.E. espalhava o terror.

Em Portugal esperava-se.

A operação 25 de Abril começa a 5 de Setembro de 1973, quando Otelo Saraiva de Carvalho, na altura destacado na Guiné-Bissau, envia uma carta a Marcello Caetano e Américo Thomaz, assinada por 55 oficiais. Quatro dias depois reúnem-se em Évora 136 oficiais que elaboram um documento destinado ao Presidente do Conselho de Ministros.

O movimento vai tomando forma e alargando-se a outros oficiais e continua mesmo depois do Governo emitir quatro decretos-lei que pretendem resolver o mal-estar entre os militares. Mas o clima de agitação continua.

A data escolhida para o golpe é 25 de Abril, uma data histórica. Em Itália, este foi o dia escolhido para operários do norte ocuparem as fábricas e fazerem o regime fascista, o que levou ao julgamento sumário de Benito Mussolini, no ano de 1945.

Chega a madrugada de 25 de Abril. O tiro de partida para uma mudança que iria afectar para sempre a vida dos portugueses é dada pela rádio, o ponto fulcral da revolução Nos Emissores Associados, João Paulo Diniz deu o sinal às 22.55 horas com a canção de Paulo de Carvalho E depois do Adeus. No programa “Limite” é Leite de Vasconcelos que passa Grândola Vila Morena, na Emissora Nacional, cujas primeiras notas soam às 00.30.

Está emitida a senha para o inicio das operações militares.

Às 03.00 as Forças da Escola Prática de Cavalaria de Santarém avançam sobre Lisboa e ocupam posições no Terreiro do Paço. Militares que se movimentaram de Mafra, Tomar, Figueira da Foz, Viseu, Lamego, Mafra, Estremoz Vendas Novas e de outros pontos do país tomam pontos estratégicos como o aeroporto, que é imediatamente fechado ao tráfego, as estações radiofónicas, a RTP e a Rádio Marconi.

O Rádio Clube Português é tomado por oito oficiais da Força Aérea e do Regimento de Caçadores 5, sob o comando do major Costa Neves.

Os centros militares caiem rapidamente, tal como os organismos policiais e estatais, onde se procede à prisão de destacados nomes da PIDE/DGS.

Otelo Saraiva de Carvalho, então com 38 anos, é o estratega, dividindo o país em cinco sectores e manobrando a partir da Pontinha

Do quartel do Carmo, Américo Thomaz e Marcello Caetano são conduzidos num tanque militar para o aeroporto de onde partem para a ilha da Madeira. O povo sai para as ruas e dirige-se ao quartel do Carmo para apoiar os militares.

Na noite de 25 de Abril, Fialho Almeida anuncia o primeiro comunicado a ser lido pela Junta de Salvação Nacional na RTP. Passam-se 23 minutos de silêncio antes de António Spínola, designado como presidente da República, começar a ler os motivos e as designações da Junta, instaurada pelo M.F.A – Movimento das Forças Armadas e constituída por Costa Gomes, António Spínola, Rosa Coutinho, Pinheiro de Azevedo, Silvino Silvério Marques e Galvão de Melo.

Um ano depois, a 25 de Abril de 1975, as primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte provocam uma afluência indiscritível às urnas. O PS obtém 37,87% dos votos, o PPD 26,39%, o PC 12,46% e o CDS 7,6%. Era a democracia a despontar em Portugal.

Balanço da revolução: Seis vítimas mortais e alguns feridos.

E os cravos tornam-se o símbolo que havia de representar a liberdade. Cravos em vez de balas, nos canos das G3 empunhadas pelos militares e nos tanques.

Cravos vermelhos de sangue, pelo sangue derramado. Cravos simplesmente.

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